DEPOIS QUE AS TIAS E MEU AVÔ DISCUTIRAM, comecei a chorar.
Gat também estava chorando.
Ele deixaria a ilha e eu nunca mais o veria. Ele nunca mais me veria.
Gat, meu Gat.
Eu nunca tinha chorado com ninguém antes. Ao mesmo tempo.
Ele chorava como um homem, não como um menino. Não como se estivesse frustrado ou as
coisas não fossem do jeito dele, mas como se a vida fosse amarga. Como se suas feridas não
pudessem ser curadas.
Eu queria curá-las para ele.
Descemos sozinhos para a praia pequena. Eu me abracei a ele e sentamos juntos na areia, e
pela primeira vez Gat não tinha nada a dizer. Nenhuma análise, nenhuma dúvida.
Finalmente, eu disse algo sobre
se,
e se,
fizéssemos com nossas próprias mãos?
E Gat disse:
Como?
E eu disse algo sobre
se,
e se,
eles parassem de brigar?
Temos algo para salvar.
E Gat disse:
Sim. Você e eu e Mirren e Johnny, sim, nós temos.
Mas é claro que sempre podemos nos ver, nós quatro.
Ano que vem já podemos dirigir.
Sempre existe o telefone.
Mas aqui, eu disse. Isso.
Sim, aqui, ele disse. Isso.
Você e eu.
Eu disse algo sobre
se,
e se,
pudéssemos de algum modo deixar de ser
a bela Família Sinclair e ser apenas uma família?
E se pudéssemos deixar de ter
cores diferentes, passados diferentes, e apenas estarmos apaixonados?
E se pudéssemos obrigar todo mundo a mudar?
Obrigar.
Você quer brincar de Deus, Gat disse.
Quero tomar uma atitude, eu disse. Sempre existe o telefone, ele disse.
Mas e aqui?, eu disse. Isso.
Sim, aqui, ele disse. Isso.
Gat era meu amor, meu primeiro e único. Como podia deixá-lo ir?
Ele era uma pessoa incapaz de forçar um sorriso, mas sorria com frequência. Envolvia
meus pulsos em gaze branca e acreditava que feridas precisavam de atenção. Escrevia nas
mãos e perguntava em que eu estava pensando. Sua mente era inquieta, inquieta. Ele não
acreditava mais em Deus e ainda assim desejava que Deus o ajudasse.
E agora ele era meu e eu disse que não devíamos deixar nosso amor ser ameaçado.
Não devíamos deixar a família se desintegrar.
Não devíamos aceitar um mal que podíamos mudar.
Nós enfrentaríamos, não é?
Sim. Enfrentaríamos.
Seríamos até heróis.
GAT E EU falamos com Mirren e Johnny.
Convencemos os dois a agir.
Dissemos uns aos outros
repetidas vezes: faça aquilo que teme.
Dissemos uns aos outros.
Repetidas vezes, afirmamos.
Dissemos uns aos outros
que estávamos certos.
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