terça-feira, 28 de abril de 2015

73



ENCONTRO MINHA MÃE NA VARANDA de Windemere com os cachorros. Ela está fazendo um
cachecol azul-claro de lã.
— Você está sempre em Cuddledown — minha mãe reclama. — Não é bom ficar lá
embaixo o tempo todo. Carrie passou lá ontem, procurando alguma coisa, e disse que está uma
imundície. O que aconteceu?
— Nada. Desculpe pela bagunça.
— Se estiver realmente sujo, não podemos pedir para Ginny limpar. Você sabe disso, não
é? Não é justo com ela. E Bess vai ter um ataque se vir.
Não quero ninguém indo a Cuddledown. Quero a casa só para nós.
— Não se preocupe. — Eu sento e acaricio a doce cabeça amarela de Bosh. — Ei, mãe?
— O que foi?
— Por que você pediu para ninguém da família me contar do incêndio?
Ela solta o novelo e fica olhando para mim por um bom tempo.
— Você se lembra do incêndio?
— Ontem à noite eu me lembrei de repente. Não me lembro de tudo, mas, sim. Lembro que
o incêndio aconteceu. Lembro que vocês todos brigaram. E todo mundo foi embora da ilha. Eu
lembro que fiquei aqui com Gat, Mirren e Johnny.
— Você se lembra de mais alguma coisa?
— Lembro como o céu ficou. Com as chamas. O cheiro da fumaça.
Se minha mãe acha que tenho alguma culpa, ela nunca, nunca, vai me perguntar. Sei que não.
Ela não quer saber.
Mudei o curso da vida dela. Mudei o destino da família. Os Mentirosos e eu.
Foi uma coisa horrível de se fazer. Talvez. Mas foi alguma coisa. Não fiquei apenas
sentada, reclamando. Sou uma pessoa muito mais poderosa do que minha mãe jamais saberá.
Eu a desobedeci e a ajudei ao mesmo tempo.
Minha mãe acaricia meu cabelo. Tão melosa. Eu recuo.
— Só isso? — ela pergunta.
— Por que ninguém fala comigo sobre isso? — repito.
— Por causa da… por causa… — Minha mãe faz uma pausa, procurando palavras. — Por
causa da sua dor.
— Porque tenho dores de cabeça, porque não consigo me lembrar do acidente, não posso
lidar com a ideia de Clairmont ter pegado fogo?
— Os médicos nos pediram para não acrescentar estresse na sua vida — ela diz. —
Disseram que o fogo pode ter desencadeado as dores de cabeça, pela inalação de fumaça ou…
medo. — Ela termina de uma maneira ridícula.
— Não sou criança — digo. — Sou capaz de lidar com informações básicas sobre nossa
família. Durante todo o verão eu venho me esforçando para me lembrar do acidente e do que
aconteceu antes. Por que não podem me contar, mãe?
— Eu contei. Há dois anos. Contei várias vezes, mas você nunca lembrava no dia seguinte.
Quando falei com o médico, ele disse que não devia ficar te chateando desse jeito, não devia
ficar te pressionando.
— Você mora comigo! — eu grito. — Não tem nenhuma fé de que seu próprio julgamento
seja superior ao de um médico qualquer que mal me conhece?
— Ele é um especialista.
— O que faz você pensar que quero que toda a minha família guarde segredos de mim, até
mesmo as gêmeas, até mesmo Will e Taft, minha nossa, em vez de saber o que aconteceu? O
que faz você pensar que sou tão frágil a ponto de não poder saber de simples fatos?
— Você parece frágil para mim — diz minha mãe. — E, para ser sincera, não tenho certeza
de que poderia lidar com isso.
— Não tem ideia do quanto isso é ofensivo.
— Eu te amo — ela diz.
Não consigo mais olhar para sua cara de pena e de dona da razão
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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