terça-feira, 28 de abril de 2015

74


MIRREN ESTÁ NO MEU QUARTO quando abro a porta. Está sentada à escrivaninha com a mão
sobre meu laptop.
— Queria saber se podia ler os e-mails que me mandou ano passado — ela diz. — Você
ainda tem?
— Sim.
— Nunca li nenhum deles — ela diz. — No início do verão eu fingi que tinha lido, mas
nunca abri.
— Por que não?
— Simplesmente não abri — ela diz. — Achei que não importava, mas agora acho que
importa. E veja! — ela disse com leveza. — Até saí da casa para fazer isso!
Engulo o máximo de raiva que posso.
— Entendo você não ter respondido, mas por que nem ao menos leu meus e-mails?
— Eu sei — Mirren diz. — É péssimo e sou uma péssima pessoa. Por favor, posso ler os emails
agora?
Abro o laptop. Faço uma busca e encontro todas as mensagens direcionadas a ela.
São vinte e oito. Leio sobre seu ombro. A maioria são e-mails agradáveis e educados de
uma pessoa que não parece ter dores de cabeça.
Mirren!
Amanhã viajo para a Europa com meu pai infiel que, como você sabe, é também extremamente chato. Deseje-me
sorte e saiba que eu queria estar passando o verão em Beechwood com você. E com Johnny. E até com Gat.
Eu sei, eu sei. Eu devia ter superado isso.
Já superei.
Já.
Estou indo para Marbella conhecer espanhóis bonitões, veja só.
Estou pensando se consigo fazer meu pai comer os pratos mais nojentos de cada país que visitarmos, como castigo
por ter fugido para o Colorado.
Aposto que consigo. Se ele realmente me ama, vai comer rã, rim e formigas cobertas com chocolate.
Cadence
A maioria era assim. Mas alguns e-mails não eram agradáveis nem educados. Eram
deploráveis e verdadeiros.
Mirren,
Inverno em Vermont. Escuro, escuro.
Minha mãe continua me observando enquanto durmo.
Minha cabeça dói o tempo todo. Não sei o que fazer para a dor parar. Os remédios não funcionam. Alguém está
partindo o topo da minha cabeça com um machado, um machado cego que não consegue fazer um corte preciso no meu
crânio. Quem quer que o esteja segurando tem que ficar golpeando minha cabeça, batendo repetidas vezes, nem sempre
no mesmo lugar. Tenho múltiplos traumas.
Às vezes sonho que quem segura o machado é o vovô.
Outras vezes, sou eu.
Outras vezes, é Gat.
Desculpe parecer louca. Minhas mãos estão trêmulas enquanto digito isso e a tela é brilhante demais.
Quero morrer às vezes. Minha cabeça dói demais. Fico te escrevendo todos os meus pensamentos mais lúcidos, mas
nunca menciono os obscuros, mesmo que os tenha o tempo todo. Então estou dizendo agora. Mesmo se você não
responder, vou saber que alguém escutou, e isso pelo menos já é alguma coisa.
Cadence
LEMOS TODOS os vinte e oito e-mails. Depois de terminar, Mirren me dá um beijo no rosto.
— Não posso nem pedir desculpas — — ela me diz. — Não existe uma palavra no Scrabble
para descrever como me sinto mal.
Então ela vai embora.
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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