terça-feira, 5 de maio de 2015

Capítulo 4



Thomas recostou-se na árvore enquanto esperava por Chuck. Correu os olhos pelo território da Clareira, o novo local de pesadelos onde parecia destinado a viver. As sombras dos muros tinham aumentado consideravelmente de comprimento, já alcançando as laterais das faces de pedra recobertas de hera do outro lado.
Pelo menos isso o ajudava a perceber as direções – o edifício de madeira inclinado no canto noroeste, encravado em um retalho de sombra escurecida, o bosque no sudoeste. A região da fazenda, onde alguns trabalhadores ainda atravessavam os campos, espalhava-se por toda a parte nordeste da Clareira. Os animais ficavam no canto sudeste, mugindo, cocoricando e balindo.
No meio exato do pátio, o fosso da Caixa continuava aberto, como se o estivessem convidando a saltar para dentro e voltar para casa. Ali perto, uns seis metros ao sul, via-se um edifício atarracado feito de blocos grosseiros de concreto, tendo como única entrada uma porta de aço ameaçadora – lá não se viam janelas. Uma grande maçaneta redonda que lembrava uma roda de leme de aço assinalava a única maneira de abrir a porta, assim como em um submarino. Apesar do que acabara de ver, Thomas não sabia qual sensação era mais forte – a curiosidade sobre o que havia lá dentro ou o medo de descobrir a resposta.
Thomas acabara de voltar sua atenção para as quatro imensas aberturas no meio dos muros principais da Clareira quando Chuck chegou, com dois sanduíches, maçãs e duas canecas de metal de água. A sensação de alívio que percorreu seu corpo surpreendeu Thomas – ele não estava completamente sozinho naquele lugar.
— O Caçarola não gostou muito que eu invadisse a cozinha dele antes da hora do jantar — informou Chuck, sentando-se junto à árvore, sugerindo com um sinal que Thomas fizesse o mesmo.
Ele sentou, pegou o sanduíche, mas hesitou, a imagem retorcida e monstruosa que vira na choça voltando a pulular em seus pensamentos. Logo, porém, a fome levou a melhor e ele deu uma boa mordida. Os sabores maravilhosos de presunto, queijo e maionese encheram a sua boca.
— Ah, cara — murmurou Thomas de boca cheia. — Eu estava morrendo de fome.
— Bem que eu lhe falei. — Chuck mastigou o sanduíche.
Depois de mais alguns bocados, Thomas finalmente fez a pergunta que vinha torturando os seus pensamentos:
— O que há de errado com o tal Ben? Ele nem parecia mais humano.
Chuck olhou de relance para a casa.
— Na verdade, eu não sei — murmurou, distante. — Não o vi.
Thomas desconfiou que o garoto não estava dizendo a verdade, mas decidiu não pressioná-lo.
— Bem, você não ia querer vê-lo, pode acreditar.
Continuou a comer, mastigando as maçãs enquanto examinava as imensas aberturas nos muros. Embora fosse difícil de ver direito dali onde estava, havia algo de estranho nas bordas de pedra das saídas para os corredores externos. Ele teve uma desagradável sensação de vertigem ao olhar para os muros muito altos, como se pairasse acima deles em vez de estar sentado na sua base.
— O que tem lá? — perguntou, quebrando o silêncio. — Isso aqui faz parte de um imenso castelo ou coisa parecida?
Chuck hesitou. Parecia pouco à vontade.
— Hã, nunca estive do lado de fora da Clareira.
Thomas fez uma pausa.
— Você está escondendo alguma coisa — disse finalmente, enquanto dava a última mordida na maçã e tomava um longo gole de água. A frustração de não conseguir respostas de ninguém estava começando a lhe dar nos nervos. E era ainda pior pensar que até mesmo se conseguisse as respostas, não saberia se estaria obtendo a verdade. — Por que vocês guardam tantos segredos?
— É assim mesmo. As coisas são realmente muito estranhas por aqui e a maioria não sabe tudo. Nem a metade de tudo.
O que incomodava Thomas era que Chuck não parecia se importar com o que dizia. Como se lhe fosse indiferente que lhe tirassem a vida que tinha. O que estava errado com aqueles caras? Thomas levantou-se e começou a andar na direção da saída para o leste.
— Bem, ninguém disse que eu não poderia dar uma olhada por aí. — Ele precisava descobrir alguma coisa ou ficaria maluco.
— Ei, espere! — gritou Chuck, correndo para alcançá-lo. — Tome cuidado, está quase na hora daquelas coisas fecharem. — Ele já parecia sem fôlego.
— Fechar? — repetiu Thomas. — Do que você está falando?
— Das Portas, seu trolho.
— Portas? Não vejo nenhuma porta.
Thomas sabia que Chuck não estava enrolando, sabia que ele, Thomas, não estava entendendo algo que parecia óbvio. Ficou meio sem graça e percebeu que diminuíra o passo, já não tão ansioso para chegar aos muros.
— Como você chamaria aquelas grandes aberturas? — Chuck apontou para os espaços imensamente altos entre os muros. Estavam a apenas uns dez metros de distância no momento.
— Eu chamaria de grandes aberturas — arriscou Thomas, tentando disfarçar o seu mal-estar com sarcasmo e ficando decepcionado por não funcionar.
— Bem, elas são as portas. E fecham todas as noites.
Thomas parou, pensando que Chuck devia ter dito algo errado. Olhou para cirna, depois para os lados, examinou as imensas lajes de pedra com uma sensação incômoda transformando-se em puro medo.
— O que quer dizer com “elas fecham”?
— Veja você mesmo em um minuto. Os Corredores vão voltar já; então essas paredes enormes vão começar a se mover até que as passagens estejam fechadas.
— Você tem um parafuso a menos — murmurou Thomas.
Não conseguia entender como aqueles muros colossais poderiam se mover... Tinha tanta certeza disso que relaxou, pensando que Chuck estivesse pregando uma peça nele.
Chegaram à imensa abertura que levava ao exterior, para mais caminhos de pedra. Thomas engoliu em seco, ficando sem pensamentos quando viu aquilo pela primeira vez.
— Esta é chamada de Porta Leste — informou Chuck, como se descortinasse orgulhoso uma obra de arte que ele mesmo criara.
Thomas mal o ouvia, chocado com o tamanho daquilo, muito maior quando visto de perto.
Com pelo menos uns seis metros da largura, a passagem no muro ia até o alto, até perder de vista. As bordas que margeavam a imensa abertura eram lisas, a não ser por um desenho peculiar, que se repetia de ambos os lados. Do lado esquerdo da Porta Leste, existiam orifícios profundos de vários centímetros de diâmetro e espaçados uns trinta centímetros entre si escavados na rocha, começando próximo ao chão e continuando até o alto. Já no lado direito, havia protuberâncias como cones, que se projetavam da borda do muro, também com vários centímetros de diâmetro, no mesmo desenho dos orifícios da face oposta. O propósito era óbvio.
— Está falando sério? — exclamou Thomas, o medo contraindo o seu estômago. — Não está brincando comigo? Os muros realmente se movem?
— O que foi que eu disse?
Thomas ficou um bom tempo matutando sobre como aquilo podia acontecer.
— Não sei. Imaginei que houvesse uma porta que fechasse ou um muro menor que deslizasse de dentro do maior. Como esses muros podem se mover? Eles são imensos, e parecem estar fixos no solo há milhares de anos!
E a ideia de aqueles muros se fecharem e enclausurarem dentro deles o que chamavam de Clareira era aterrorizante.
Chuck jogou os braços para cima para enfatizar a sua frustração.
— Não sei como, mas eles simplesmente se movem. Fazem a gente se encolher com o seu rangido. A mesma coisa acontece lá fora no Labirinto... Aqueles muros também mudam de lugar todas as noites.
De repente, desperto por esse novo detalhe, Thomas voltou-se para o garoto mais novo.
— O que foi que acabou de dizer?
— Há?
— Você falou num labirinto... disse: “A mesma coisa acontece lá no labirinto”.
Chuck enrubesceu.
— Pra mim já chega. Agora chega. — Ele caminhou de volta à arvore de onde tinham partido.
Thomas ignorou-o, mais interessado do que nunca na parte de fora da Clareira. Um labirinto? Na frente dele, através da Porta Leste, era capaz de imaginar passagens que levavam ora para a esquerda, ora para a direita e também para a frente. E as paredes dos corredores eram semelhantes àquelas que contornavam a Clareira, o chão feito dos mesmos imensos blocos de pedra do pátio. A hera parecia ainda mais densa lá. À distância, mais intervalos nos muros levavam a outros caminhos, e mais à frente, talvez a cem metros ou mais, a passagem reta chegava a um beco sem saída.
— Parece mesmo um labirinto — sussurrou Thomas, quase rindo para si mesmo.
Como se as coisas não pudessem se tornar mais estranhas. Tinham lhe tirado a memória e o haviam colocado em um labirinto gigantesco. Era tão louco que até parecia engraçado.
Seu coração deu uma batida a menos quando um garoto apareceu de maneira inesperada ao redor de um canto à frente, entrando na passagem principal de uma das saídas à direita, correndo na direção dele e da Clareira. Coberto de suor, o rosto vermelho, as roupas grudadas no corpo, o garoto não diminuiu a velocidade, mal olhando para Thomas quando passou. Foi direto para o edifício atarracado de concreto localizado perto da Caixa.
Thomas virou-se quando ele passou, acompanhando com o olhar o Corredor exausto, sem saber por que esse novo acontecimento o surpreendia tanto. Por que as pessoas não saíam para percorrer o labirinto? Então percebeu que outros entravam pelas três aberturas restantes da Clareira, todos correndo e parecendo tão apressados quanto o garoto que acabara de passar por ele. Pelo jeito que aqueles caras voltavam tão cansados e desgastados, as coisas não deviam ser muito fáceis no labirinto.
Curioso, observou quando eles chegaram à grande porta de ferro do pequeno edifício; um dos garotos girou a maçaneta em forma de roda, gemendo com o esforço. Chuck dissera algo sobre os Corredores antes. O que eles iam fazer lá fora?
A grande porta finalmente cedeu e, com um rangido abafado de metal contra metal, os garotos a abriram completamente. Então desapareceram no interior, fechando-a atrás de si com um ruído alto. Thomas ficou olhando, a mente fervilhando para tentar encontrar alguma explicação possível para o que acabara de testemunhar. Nada mudara, mas algo sobre aquele velho edifício decadente dava-lhe sobressaltos, um calafrio inquietante.
Alguém puxou-o pela manga da camisa, tirando-o dos seus pensamentos; era Chuck de novo.
Antes de ter uma chance de pensar, as perguntas correram para a sua boca.
— Quem são aqueles caras e o que estavam fazendo? O que tem naquele prédio? — Girou nos calcanhares e apontou para a Porta Leste. — E por que vocês moram dentro de um labirinto esquisito? — Ele sentia a pressão da dúvida fustigá-lo, fazendo a sua cabeça rachar de dor.
— Não vou dizer mais nenhuma palavra — retrucou Chuck, com uma autoridade nova na voz. — Acho que você precisa ir cedo para a cama... Vai precisar dormir. Ah!... — Ele parou, levantou um dedo, coçando a orelha direita. — Vai acontecer agora.
— O quê? — indagou Thomas, achando um pouco estranho que Chuck estivesse de repente agindo como um adulto e não como o menino desesperado por um amigo que fora até uns instantes atrás.
Um estrondo alto elevou-se no ar, fazendo Thomas saltar. O barulho foi seguido de um hediondo som áspero e arrastado. Ele recuou apalermado, caiu no chão. Era como se a terra inteira fosse sacudida; ele olhou ao redor em pânico. Os muros estavam se fechando. Os muros estavam realmente se fechando – prendendo-os dentro da Clareira. Uma repentina sensação de claustrofobia o enrijeceu, comprimindo os seus pulmões, como se as suas cavidades se enchessem de água.
— Calma, Fedelho — Chuck gritou acima do ruído. — São só os muros!
Thomas mal o ouvia, fascinado demais, abalado demais com o fechamento das Portas.
Levantou-se e deu alguns passos trêmulos para trás para observar melhor, achando difícil acreditar no que os seus olhos estavam vendo.
O muro enorme de pedra à direita deles parecia desafiar todas as leis da física conhecidas ao deslizar sobre o chão, lançando faíscas e poeira enquanto se movia, rocha contra rocha. O som esmagador fazia os seus ossos tremerem. Thomas percebeu que só aquele muro estava se movendo, encaminhando-se para o seu vizinho da esquerda, pronto para se fechar totalmente com os bastões salientes de um lado introduzindo-se nos orifícios escavados do outro. Ele olhou para as outras aberturas. A sua cabeça parecia girar mais rápido do que o corpo, e a tontura lhe deu um nó no estômago. Dos quatro lados da Clareira, só os muros da direita se moviam, para a esquerda, fechando os vãos das Portas.
“Impossível”, pensou. “Como eles conseguem fazer isso?” Precisou lutar contra o impulso de correr até lá, esgueirar-se por entre as lajes das rochas em movimento antes que uma se fechasse sobre a outra, fugir da Clareira. O bom senso venceu – o labirinto guardava ainda mais segredos do que a situação dele ali dentro.
Tentou imaginar como a estrutura toda funcionava. Imensos muros de pedra, com mais de cem metros de altura, movendo-se como portas de vidro deslizantes – uma imagem da sua vida passada que voltou numa fração de segundo aos seus pensamentos. Tentou reter a lembrança, prendê-la, completá-la com rostos, nomes, um lugar, mas tudo se perdeu na escuridão. Uma tristeza doída insinuou-se naquele redemoinho de emoções. Ele observou como o muro da direita chegava ao fim do seu percurso, os bastões de ligação encontrando a posição e entrando sem uma falha. Um estrondo ecoou por toda a Clareira quando as Portas foram lacradas para a noite. Thomas sentiu um momento final de trepidação, uma tênue onda de medo atravessar-lhe o corpo e depois desaparecer.
Uma surpreendente sensação de calma relaxou os seus nervos; soltou um longo suspiro de alívio.
— Uau! — exclamou, espantado com tudo aquilo que acabava de presenciar.
— “Não é nada, não”, como diria Alby — murmurou Chuck. — Você acaba se acostumando depois de algum tempo.
Thomas olhou ao redor uma vez mais, a sensação do lugar completamente diferente agora que todos os muros estavam unidos sem possibilidade de saída. Tentou imaginar o propósito de uma coisa daquelas e não soube dizer que palpite seria pior – que eles estavam presos dentro ou que estavam protegidos de algo de fora. O pensamento acabou com o seu breve momento de calma, lançando em sua mente um milhão de possibilidades de quais seriam as formas de vida que havia no labirinto lá fora, todas elas aterrorizantes. O medo tomou conta dele outra vez.
— Vamos — chamou Chuck, puxando Thomas pela manga uma segunda vez. — Acredite em mim, quando a noite chega, você quer estar na cama.
Thomas sabia que não tinha outra escolha. Fez o melhor que pôde para reprimir o tumulto de emoções que estava sentindo e o acompanhou

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Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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