sexta-feira, 12 de junho de 2015

Capítulo 10



Ele não acreditava como a luz pudera desaparecer tão depressa. Vista da Clareira, a
floresta não parecia tão grande, talvez tivesse menos de um hectare. Ainda assim as árvores
eram altas, com troncos robustos, crescendo bem próximas umas das outras, as copas fechadas
de folhas. O ar ao seu redor tinha um tom esverdeado, embaçado, como se só houvesse alguns
minutos de luz difusa por ali ao longo do dia.
Era algo lindo e horripilante ao mesmo tempo.
Avançando o mais rápido possível, Thomas chocava-se contra a pesada folhagem, os
ramos mais finos batendo no seu rosto. Ele se curvou para evitar um ramo mais baixo, quase
caindo. Estendendo a mão, segurou-se em outro ramo e se balançou para a frente para recobrar
o equilíbrio. Um grosso leito de folhas e galhos caídos rangeu sob os seus pés.
Durante todo o tempo, procurou não perder de vista o besouro mecânico que atravessava
ligeiro o chão da floresta. Ele se embrenhou entre as árvores, a sua luz vermelha brilhando
com mais intensidade enquanto o local ao redor escurecia.
Thomas tinha penetrado uns dez ou doze metros entre as árvores, tropeçando e se
abaixando, perdendo terreno a cada segundo, quando o besouro mecânico saltou sobre uma
árvore grande e subiu pelo seu tronco. Mas no momento em que Thomas alcançou a árvore,
não havia mais o menor sinal da criatura. Ela tinha desaparecido completamente no meio da
folhagem - quase como se nunca tivesse existido.
Ele perdera o safado.
- Mértila! - Thomas sussurrou, quase como uma piada. Quase. Por estranho que parecesse,
a palavra soou quase natural nos seus lábios, como se já a tivesse pronunciado na Clareira.
Um galhinho estalou em algum lugar à sua direita e ele virou rapidamente a cabeça naquela
direção. Prendeu a respiração e escutou.
Outro estalo, dessa vez mais forte, quase como se alguém tivesse quebrado um galho sobre
o joelho.
- Quem está aí? - gritou Thomas, um arrepio de medo correndo pelos seus ombros. A sua
voz chegou até a copa das árvores lá no alto e ecoou no ar. Ele permaneceu imóvel, pregado
no lugar enquanto tudo silenciava, a não ser pelo assobio melodioso de alguns pássaros à
distância. Mas ninguém respondeu ao seu chamado. Nem ele ouviu mais nenhum som daquela
direção.
Sem pensar no que fazia, Thomas encaminhou-se na direção do ruído que ouvira. Ia
afastando os ramos enquanto caminhava, sem se preocupar em disfarçar o seu rastro. Com uma
careta, semicerrou os olhos para espreitar na escuridão cada vez mais densa, desejando ter
uma lanterna. Pensou em lanternas e na sua memória. Uma vez mais, lembrava-se de uma coisa
tangível do passado, mas não conseguia vinculá-la a nenhum momento ou lugar em especial,
não conseguia associá-la a nenhuma outra pessoa ou acontecimento. Era frustrante.
- Tem alguém aí? - indagou de novo, sentindo-se um pouco mais calmo pelo fato de o
ruído não se repetir. Provavelmente fora apenas algum animal, talvez outro besouro mecânico.
Só por precaução, gritou:
- Sou eu, Thomas. O novo calouro. Quero dizer, um dos dois mais novos.
Deu de ombros e abanou a cabeça, esperando então que não houvesse ninguém ali.
Sentia-se um perfeito idiota.
De novo, nenhuma resposta.
Deu a volta em torno de um grande carvalho e parou de repente. Um arrepio gelado desceu
pelas suas costas. Tinha chegado ao cemitério.
O lugar era pequeno, talvez com uns dez metros quadrados, e coberto com uma grossa
camada de mato verdejante que crescia rente ao chão. Thomas avistou diversas cruzes de
madeira, feitas de modo desajeitado, espetadas entre as plantas, com as hastes horizontais
presas sobre as verticais por um pedaço de barbante. As placas das sepulturas tinham sido
pintadas de branco, mas por alguém que claramente fizera isso de maneira apressada - bolhas
pastosas as cobriam e partes da madeira apareciam entre elas. Os nomes tinham sido gravados
na madeira. Hesitante, Thomas se aproximou da que estava mais perto e se ajoelhou para dar
uma olhada. A luz já estava tão fraca naquele momento que ele teve a impressão de estar
olhando através de uma névoa preta. Até mesmo os pássaros haviam se calado, como se
estivessem se preparando para dormir, e o ruído dos insetos era quase imperceptível, ou pelo
menos muito menor do que o normal. Pela primeira vez, Thomas percebeu o quanto estava
úmido na floresta, o ar se condensando como suor na sua testa, no dorso das suas mãos.
Ele se inclinou perto da primeira cruz. Ela parecia recente e trazia o nome Stephen - o n
final pequeno e próximo da borda porque o gravador não calculara bem o espaço necessário.
"Stephen", pensou Thomas, sentindo uma tristeza inesperada mas distante. "Qual é a sua
história? Chuck irritou você até a morte?"
Ele se levantou e aproximou-se de outra cruz, esta quase coberta pelo mato, a terra bem
firme na sua base. Fosse quem fosse, esse devia ter sido um dos primeiros a morrer, porque a
sepultura parecia a mais velha. O nome era George.
Thomas olhou em volta e percebeu que havia mais ou menos uma dezena de outras
sepulturas. Algumas delas pareciam ser tão recentes quanto a primeira que examinara. Um
lampejo prateado chamou a sua atenção. Esse era diferente do besouro mecânico arisco que o
levara para a floresta, mas tão estranho quanto o outro. Ele passou pelas placas até chegar a
uma sepultura coberta com uma folha de plástico ou vidro sombrio, as bordas sujas com uma
espécie de lodo. Semicerrou os olhos, tentando ver o que havia do outro lado, então levou um
susto quando conseguiu enxergar. Era uma janela para outra sepultura - nela havia os restos
empoeirados de um corpo em decomposição.
Apavorado, mas ainda assim curioso, Thomas se inclinou para ver mais de perto. O
túmulo era menor do que o comum - só a metade superior do defunto jazia lá dentro. Ele se
lembrou da história de Chuck sobre o garoto que tentara descer pela corda no buraco negro da
Caixa depois que ela tinha baixado, acabando por ser cortado em dois por alguma coisa que o
atacou no ar. No vidro havia palavras gravadas; Thomas conseguiu lê-las:
Que esse meio-trolho sirva de advertência a todos: não se pode escapar pelo Fosso da
Caixa.
Thomas sentiu uma estranha vontade de rir - parecia ridículo demais para ser verdade.
Mas também ficou desgostoso consigo mesmo por ser tão superficial e inconstante. Abanando
a cabeça, caminhou para o lado, para ler mais nomes de mortos, quando outro graveto
quebrou, dessa vez bem à sua frente, atrás das árvores que ficavam do outro lado do
cemitério.
Depois outro estalido. E mais outro. Aproximando-se. A escuridão estava mais intensa.
- Quem está aí? - ele gritou, a voz trêmula e fraca. Soava como se estivesse falando dentro
de um túnel vazio. - Falando sério, isso é uma idiotice. - Detestava ter de admitir a si mesmo o
quanto estava aterrorizado.
Em vez de responder, a pessoa desistiu de qualquer intenção de ser sigilosa e começou a
correr pela floresta ao redor do cemitério, cercando o ponto onde Thomas se encontrava. Ele
congelou, dominado pelo pânico. Agora, a poucos metros de distância, o visitante tornava-se
cada vez mais audível, até que Thomas vislumbrou a sombra de um garoto raquítico correndo
e mancando por todo o trajeto.
- Quem é que...
Antes que ele pudesse terminar, o garoto saiu correndo desembestado por entre as árvores.
Thomas viu apenas o brilho fugidio da pele clara e olhos enormes - a imagem assombrada de
uma aparição - e gritou, tentou correr, mas era tarde demais. A figura saltara no ar e estava em
cima dele, fustigando os seus ombros, agarrando-o com mãos fortes. Thomas caiu no chão,
sentiu uma placa de sepultura cravar-se nas suas costas para em seguida se partir em duas,
abrindo um profundo arranhão na pele.
Thomas empurrou seu agressor e o golpeou, um amontoado inquieto de pele e ossos
sacolejando em cima dele enquanto tentava se firmar. Parecia um monstro, uma criatura
horrorosa de um pesadelo, mas Thomas sabia que tinha de ser um Clareano, alguém que
perdera o juízo por completo. Ele ouviu dentes baterem como se a boca se abrisse e se
fechasse, num horrível claque, claque, claque. Então sentiu uma pontada de dor quando a boca
do garoto achou o seu caminho, mordendo-lhe profundamente o ombro.
Thomas gritou, com a dor provocando um jorro de adrenalina através do seu sangue. Ele
encostou com energia a palma das mãos no peito do seu agressor e empurrou, esticando os
braços até que os músculos se estirassem contra a figura que se debatia em cima do seu corpo.
Finalmente, o garoto caiu para trás; um estalido seco correu pelo ar quando outra placa de
sepultura encontrou o seu fim.
Thomas sacudiu as mãos e os pés, respirando forte várias vezes, e deu a primeira boa
olhada no agressor furioso.
Era o garoto doente.
Era Ben
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Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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