quinta-feira, 6 de agosto de 2015

CAPÍTULO II


A tarde de ontem foi fria e enevoada. Estava com vontade de passá-la à beira da lareira, no meu escritório, em vez de atravessar urzes e lama até o Morro dos Ventos Uivantes. Entretanto, logo depois do almoço (N.B. — almoço entre o meio-dia e uma hora, pois a governanta, uma senhora
matronal, que recebi junto com a casa, não pode ou não quer compreender o meu pedido de ser servido às cinco), ao subir a escada com essa preguiçosa intenção e entrar no escritório, dei com uma empregada de joelhos, rodeada de vassouras e baldes de carvão e levantando um pó infernal, ao tentar extinguir as chamas da lareira com montes de cinzas. Aquele espetáculo fezme logo recuar; peguei no chapéu e, após caminhar umas quatro milhas, cheguei ao portão do jardim de Heathcliff bem a tempo de escapar aos primeiros flocos de uma nevasca.
No alto daquele desolado morro, a terra estava coberta de uma geada
dura e enegrecida e o vento fazia-me tiritar. Não conseguindo remover a
corrente, pulei por cima da cancela e, correndo pelo caminho empedrado e
ladeado por groselheiras, bati em vão à porta, até os nós dos dedos me
doerem e os cães começarem a uivar.
"Gente desgraçada!", invectivei mentalmente. "Vocês merecem viver
eternamente isolados, pela falta de hospitalidade que demonstram. Eu, pelo
menos, não trancaria as minhas portas durante o dia. Não importa — hei de
entrar!" Assim decidido, agarrei a tranca e sacudi-a com toda a força. Não tardou para que o rosto azedo de Joseph surgisse a uma das janelas redondas
do celeiro.
— Que é que o senhor quer? — gritou ele. — O patrão está lá
embaixo, no curral. Pode dar a volta pela ponta do lago, se quiser falar com ele.
— Não há ninguém em casa para me abrir a porta? — gritei também.
— Não tem ninguém, só a patroa; mas ela não vai abrir, nem que o
senhor continue martelando a porta até de noite.
— Por quê? Você não lhe pode dizer quem sou, Joseph?
— Eu, não! Não quero me meter nisso! — resmungou ele, tirando a
cabeça da janela.
A neve começou a cair com força. Agarrei a tranca para fazer outra
tentativa, quando um jovem sem casaco, levando ao ombro uma forquilha,
apareceu no pátio. Disse-me para segui-lo, e, após atravessarmos uma
lavandaria e uma área empedrada, contendo um depósito de carvão, uma
bomba e um pombal, entramos no enorme e quente aposento em que da
primeira vez fora recebido. Um fogo imenso, alimentado com carvão, turfa e
lenha, tornava-o ainda mais acolhedor; e perto da mesa, posta para um
abundante chá, tive o prazer de ver a "patroa", pessoa de cuja existência até ali
nem sequer suspeitara. Inclinei a cabeça, em cumprimento, esperei que ela me
convidasse a tomar assento. Mas ela olhou para mim, reclinada na sua cadeira,
e continuou imóvel e muda.
— Tempo horrível! — comentei. — Sinto muito, Sra. Heathcliff, mas a
culpa é dos seus criados; quase tive de arrombar a porta para que eles me ouvissem.

Ela permaneceu calada. Olhei-a bem nos olhos — ela também me fitou;
pelo menos manteve os olhos em mim, de uma maneira fria, indiferente, por
demais embaraçosa e desagradável.
— Sente-se — disse o jovem, com secura. — Ele não demora.
Obedeci. Pigarreei e chamei a terrível Juno, que se dignou, naquele
segundo encontro, agitar a extremidade da cauda, em sinal de reconhecimento.
— Lindo animal! — recomecei. — Pretende dar os filhotes?
— Não são meus — replicou a simpática anfitrioa, de maneira ainda
mais cortante do que Heathcliff teria respondido.
— Ah, os seus favoritos são, então, aqueles? — prossegui, apontando
para uma almofada cheia de algo parecido com gatos.
— Estranho favoritismo, esse! — observou ela, com desdém.
Infelizmente, aquilo era um monte de coelhos mortos. Pigarreei outra
vez e aproximei-me da lareira, repetindo o meu comentário a respeito do mau tempo.
— O senhor não deveria ter saído de casa — disse ela, levantando-se e
tirando duas das latas pintadas que havia em cima da lareira.
Sentada como estava antes, contra a luz, não se podia vê-la bem. Agora,
porém, o fogo iluminava-a toda. Era esbelta e aparentemente mal saída da
adolescência. Tinha uma silhueta impecável e o mais belo rostinho que eu já
tivera o prazer de contemplar: feições pequenas e harmoniosas; cachos louros
ou, melhor, dourados, caindo sobre o seu pescoço delicado; e olhos que
teriam sido irresistíveis, se a sua expressão fosse agradável; felizmente para o
meu suscetível coração, o único sentimento que eles revelavam hesitava entre

o desprezo e algo assim como um desespero estranho e fora do natural. As
latas estavam difíceis de alcançar; fiz um gesto para ajudá-la. Ela se voltou
para mim como um avarento se voltaria se alguém tentasse ajudá-lo a contar o
seu ouro.
— Não quero a sua ajuda — falou. — Posso apanhá-las sozinha.
— Mil perdões! — apressei-me a responder.
— O senhor foi convidado para o chá? — perguntou, atando um
avental por cima do seu elegante vestido preto e segurando uma colher de chá
sobre a chaleira.
— Gostaria muito de tomar uma xícara — respondi.
— Foi convidado? — repetiu ela.
— Não — disse eu, quase a sorrir. — Mas a senhora e a pessoa
indicada para me convidar.
Ela pôs o chá de volta na lata e voltou para a sua cadeira, a testa
enrugada e o lábio inferior espichado, como uma criança prestes a chorar.
Entretanto, o jovem jogara sobre si uma jaqueta decididamente gasta, e,
erguendo-se diante do fogo, olhou para mim com o canto do olho, como se
entre nós houvesse uma rivalidade mortal. Comecei a pensar que ele talvez
não fosse um empregado; a sua roupa e a sua maneira de falar eram ambas
grosseiras, sem qualquer traço da superioridade comum ao Sr. e à Sra.
Heathcliff; seu cabelo, grosso e castanho, era maltratado, as suíças espalhavam-se
desordenadamente pelas suas bochechas, e tinha as mãos
encardidas como as de um serviçal. Mas os seus modos eram livres, quase
arrogantes, e ele não mostrava servilismo perante a dona da casa. Na ausência
de provas claras, achei melhor abster-me de reparar na sua curiosa conduta; e, cinco minutos depois, a chegada de Heathcliff veio, de certo modo, aliviar-me
da desconfortável posição em que me encontrava.
— Como vê, aqui estou eu, conforme prometi! — exclamei, adotando
um ar alegre. — E acho que vou ter que ficar aqui mais meia hora, se o
senhor me puder abrigar durante esse tempo.
— Meia hora? — repetiu ele, sacudindo os flocos de neve dos seus
trajes. — Não posso compreender por que razão o senhor foi escolher uma
tempestade de neve para andar por aí. Sabe que corre o perigo de se perder
nos pântanos? As pessoas que os conhecem bem muitas vezes se perdem, em
tardes como essa. E digo-lhe que o tempo não vai mudar.
— Talvez algum dos seus rapazes me possa guiar e pernoitar na granja.
Pode ceder-me alguém?
— Não, não posso.
— Oh, bem, então tenho de confiar no meu sentido de orientação.
— Hum!
— Vai fazer o chá ou não vai? — perguntou o da jaqueta andrajosa,
desviando o olhar feroz de mim para a jovem.
— Ele vai tomar chá? — perguntou ela, por sua vez, dirigindo-se a
Heathcliff.
— Faça logo o chá! — foi a resposta, dita num tom tão furioso que
estremeci, pois revelava uma péssima natureza. Já não me sentia inclinado a
considerar Heathcliff um grande sujeito. Quando o chá ficou pronto, ele me
convidou com: — Vamos, chegue a sua cadeira. — E todos nós, inclusive o
jovem rústico, nos aproximamos da mesa, à volta da qual se instalou um
desconfortável silêncio.

Pensei que, uma vez que o causara, fosse meu dever esforçar-me por
dissipá-lo. Não era possível que todos os dias se sentassem para tomar chá
num ambiente tão taciturno; e tampouco era possível que, por pior gênio que
tivessem, aquelas caras fechadas fossem a sua expressão cotidiana.
— É estranho — comecei, entre uma xícara e outra —, é estranho
como o hábito pode moldar os nossos gostos e as nossas idéias. Muita gente
não imaginaria que poderia haver felicidade numa vida de completo exílio do
mundo, como é a sua, Sr. Heathcliff; e, contudo, ouso dizer que, rodeado da
sua família e com a sua encantadora senhora presidindo em seu lar e em seu
coração. . .
— Minha encantadora senhora! — interrompeu ele, com uma
expressão quase diabólica. — Onde está ela. . . a minha encantadora senhora?
— Refiro-me à Sra. Heathcliff, sua esposa.
— Oh, sim. . . Pelo visto, o senhor insinua que o seu espírito assumiu a
forma de anjo da guarda, velando pela felicidade do Morro dos Ventos
Uivantes mesmo depois da morte. É isso?
Percebendo que tinha cometido uma gafe, tentei corrigi-la. Devia ter
visto que havia demasiada disparidade entre as idades de ambos para que se
pudesse pensar neles como marido e mulher. Ele devia andar pelos quarenta
anos, uma idade de vigor mental, em que os homens raramente acalentam a
ilusão de que as jovens se casam com eles por amor — esse sonho é
reservado ao consolo dos anos de declínio. Quanto a ela, talvez não tivesse
sequer dezessete anos.
Ocorreu-me, então: "Essa rude criatura a meu lado, tomando chá numa
caneca e comendo pão sem lavar as mãos, deve ser o marido dela: Heathcliff

Junior, sem dúvida. Eis a conseqüência de se deixar enterrar em vida: uma
moça tão bonita desperdiçada com esse rapaz horrível, só por não conhecer
ninguém melhor! Uma pena — tenho de ter cuidado para não a fazer lastimar
a sua escolha". Essa última reflexão podia parecer convencimento, mas não
era. O meu vizinho de mesa era quase repulsivo; quanto a mim, sabia, por
experiência, que era um tanto atraente.
— A Sra. Heathcliff é minha nora — informou Heathcliff,
corroborando a minha suposição. Ao falar, lançou-lhe um olhar peculiar: um
olhar de ódio; a menos que tenha um jogo especial de músculos faciais, que,
ao contrário das outras pessoas, não interprete o que lhe vai na alma.
— Ah, sim, agora entendo: o senhor é o feliz possuidor da bela fada —
comentei, virando-me para o meu vizinho.
Foi pior a emenda do que o soneto: o jovem ficou escarlate e fechou o
punho, dando-me a impressão de que me ia esmurrar. Mas logo pareceu
dominar-se, e, controlando-se brutalmente, resmungou qualquer coisa para
mim, que procurei ignorar.
— O senhor não tem sorte nas suas conjeturas — observou o meu
anfitrião. — Nenhum de nós dois tem o privilégio de ser possuidor da sua
bela fada; o marido dela morreu. Disse-lhe que ela era minha nora, de modo
que é fácil deduzir que casou com meu filho.
— Mas esse jovem não é. . .
— Não é meu filho, claro!
Heathcliff sorriu de novo, como se fosse uma piada de péssimo gosto atribuir-lhe a paternidade daquele urso.

— Meu nome é Hareton Earnshaw — grunhiu o outro. — Aconselho
você a respeitá-lo!
— Não me parece que o tenha desrespeitado — repliquei, rindo
interiormente da dignidade com que ele se anunciara.
Fixou em mim um olhar que eu procurei não devolver, por medo de
não resistir à tentação de esbofeteá-lo ou então de rir em voz alta. Começava
a sentir-me inconfundivelmente mal e deslocado naquele agradável círculo
familiar. O horrível ambiente vencia e mais que neutralizava o conforto físico
que me rodeava, e resolvi tomar mais cuidado antes de aventurar-me uma
terceira vez sob aquele teto.
Terminada a ocupação de comer e como ninguém pronunciasse uma só
palavra de palestra social, aproximei-me de uma janela para ver como estava o
tempo. O que vi foi desanimador: a escuridão da noite caía prematuramente e
o céu e as colinas se confundiam num remoinho de vento e de neve.
— Não acho que vá poder chegar a casa sem um guia — exclamei. —
As estradas já devem estar cobertas de neve; e, mesmo que não estejam, mal
vou conseguir ver onde ponho os pés.
— Hareton, toque aquela dúzia de carneiros para o andar de cima do
celeiro. Vão ficar enregelados se os deixarem no curral toda a noite. E ponha
uma tábua à frente deles — disse Heathcliff.
— Que hei de fazer? — insisti, com crescente irritação.
Não tive resposta. Olhando em volta, vi apenas Joseph, trazendo um
balde com mingau para os cães, e a Sra. Heathcliff divertindo-se a acender no
fogo um feixe de fósforos que tinham caído do alto da lareira quando ela

pusera a lata de chá no seu lugar. Após ter depositado o balde no chão, o
velho criado olhou em redor com ar crítico e, com voz rachada, invectivou:
— Não entendo como é que se pode ficar aí sem fazer nada! Mas não
adianta falar, quem é mau já nasce torto e acaba no inferno, igualzinho à mãe!
Por um momento pensei que aquele sermão fosse dirigido a mim e,
suficientemente enraivecido, avancei para o homem, com a intenção de chutá-
lo porta afora. Mas a resposta da Sra. Heathcliff deteve-me a tempo.
— Seu velho hipócrita! — replicou ela. — Será que você não tem medo
de que o Diabo o carregue, de tanto falar no inferno? Aconselho-o a não me
provocar, ou pedirei ao Maligno que o leve. Espere aí, Joseph — continuou,
tirando um livro comprido e escuro da prateleira. — Vou lhe mostrar como
progredi na magia negra. Em breve poderei lidar com vocês todos. A vaca
vermelha não morreu por acaso e o seu reumatismo não pode ser considerado
uma bênção dos céus!
— Malvada, malvada! — arquejou o velho. — Que o Senhor nos salve
do mal!
— Não, você é um réprobo! Cuidado, ou eu ainda lhes farei muito mal!
Tenho vocês todos modelados em cera e barro, e o primeiro que ultrapassar
os limites que eu fixar há de. . . não vou dizer, mas vocês vão ver! Agora, fora
daqui!
A bruxinha pôs uma expressão diabólica nos seus belos olhos, e Joseph,
tremendo de autêntico pavor, saiu correndo, rezando e murmurando
"malvada". Achei que a conduta dela devia ser motivada por um estranho
senso de humor; e, aproveitando que estávamos sozinhos, tentei interessá-la
no meu caso.

— Sra. Heathcliff — disse, sem esconder a minha preocupação —,
desculpe-me incomodá-la. Com esse rosto, tenho a certeza de que a senhora
possui um bom coração. Diga-me como me poderei orientar para voltar para
casa. Não tenho mais idéia de que caminho tomar do que se tivesse de ir
agora para Londres!
— Tome o mesmo caminho pelo qual o senhor veio — respondeu ela,
aninhando-se numa poltrona, com uma vela e o livro preto aberto à sua
frente. — É o melhor conselho que lhe posso dar.
— Quer dizer que, se me encontrarem morto no pântano ou caído num
poço cheio de neve, a sua consciência não a acusará?
— Por quê? Não posso acompanhá-lo. Não me deixariam chegar à
ponta do muro do jardim.
— A senhora! Eu jamais lhe pediria para pôr o pé fora da casa numa
noite destas só por minha causa! — exclamei. — Quero que me diga que
caminho tomar, não que o mostre; ou, então, que convença o Sr. Heathcliff a
me dar um guia.
— Mas quem? Há ele, Earnshaw, Zillah, Joseph e eu. Qual de nós lhe
serviria?
— Não há empregados na fazenda?
— Não; somos só nós.
— Então serei obrigado a pernoitar aqui.
— Isso o senhor pode acertar com o dono da casa. Eu nada tenho com
isso.
— Espero que isto o ensine a não se aventurar mais por estes morros
— falou a severa voz de Heathcliff, da porta da cozinha. — Quanto a pernoitar aqui, não tenho acomodações para hóspedes; se quiser ficar, terá de
partilhar uma cama com Hareton ou com Joseph.
— Posso dormir numa poltrona, aqui mesmo na sala _repliquei.
— Não, não! Um estranho é um estranho, seja ele rico ou pobre! Não
quero ninguém aqui enquanto estou dormindo! — disse o desgraçado.
Com esse insulto, a minha paciência estava no fim. Murmurei uma
expressão de desagrado e precipitei-me para o pátio, quase dando um
encontrão em Earnshaw, na minha pressa. Estava tão escuro, que não
conseguia encontrar a saída. Enquanto a procurava, ouvi mais uma amostra
da cordialidade que reinava entre eles. A princípio, o jovem parecia estar do
meu lado.
— Vou com ele até o parque — anunciou.
— Você vai com ele mas é para o inferno! — exclamou o patrão ou
fosse lá o que fosse. — E quem vai tratar dos cavalos, hein?
— A vida de um homem é mais importante do que deixar uma noite de
cuidar dos cavalos. Alguém tem de ir com ele — murmurou a Sra. Heathcliff,
para minha surpresa.
— Não se você mandar! — retrucou Hareton. — Se você simpatizou
com ele é melhor ficar calada.
— Pois então espero que o fantasma dele o persiga; e espero que o Sr.
Heathcliff nunca mais consiga outro inquilino até que a granja fique em
ruínas! — contra-atacou ela, furiosa.
— Escute só, ela está amaldiçoando eles! — murmurou Joseph, em cuja
direção eu me encaminhara.

Estava sentado a pequena distância, ordenhando as vacas à luz de uma
lanterna, que apanhei sem cerimônia, dizendo que a devolveria no dia
seguinte e encaminhando-me para a porteira mais próxima.
— Patrão, patrão, ele está roubando a lanterna! — gritou o velho,
correndo atrás de mim. — Ei, Gnasher! Ei, cachorro! Ei, Lobo, peguem ele!
Peguem ele!
Quando abri a porteira, dois monstros peludos pularam-me ao pescoço,
jogando-me ao chão e apagando a lanterna, enquanto a risada conjunta de
Heathcliff e Hareton ultrapassava os limites da minha raiva e da minha
humilhação. Felizmente, os bichos pareciam mais inclinados a esticar as patas,
a bocejar e abanar as caudas do que a devorar-me vivo; mas não me deixavam
levantar-me, e tive de jazer no chão até que os seus donos se dignaram
chamá-los. Sem chapéu e tremendo de fúria, ordenei que me deixassem sair
— talvez se arrependessem, se eu ficasse mais um minuto naquela casa —
com várias e incoerentes ameaças de vingança, que, na sua virulência, faziam
lembrar o Rei Lear.
A veemência da minha agitação fez-me sangrar copiosamente pelo
nariz, aumentando as risadas de Heathcliff e a minha indignação. Não sei
como terminaria aquilo, não fosse a entrada em cena de uma pessoa mais
sensata do que eu e mais benévola do que o meu anfitrião: Zillah, a gorda
governanta, que acorreu a saber as causas do tumulto. Pensou que me
tivessem atacado e, não ousando voltar-se contra o patrão, assestou a sua
artilharia vocal contra o jovem.
— Muito bem, Sr. Earnshaw! — exclamou. — Só quero ver a que
ponto o senhor vai chegar! Com certeza vamos matar gente aqui em casa!

Estou vendo que esta casa não é para mim. . . vejam só o pobre rapaz, está
sufocando-se! Espere aí, o senhor não pode ir embora assim. Entre, que eu
lhe curo isso. Fique quietinho!
Assim falando, ela derramou uma vasilha de água gelada pelo meu
pescoço abaixo e puxou-me para a cozinha. O Sr. Heathcliff seguiu-nos,
novamente taciturno após aquela acidental explosão de riso.
Sentia-me tonto e fraco, o que me obrigou a aceitar alojamento para a
noite. Heathcliff disse a Zillah que me desse um cálice de brandy e depois
passou para a sala, enquanto a governanta lamentava o que me acontecera e,
após me haver servido a bebida, mostrava-me o caminho do quarto.
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Bem Vindos ao Livro teen


Então resolvi criar esse blog porque, muita gente não tem dinheiro(tipo eu) ,vou postar livro de qualquer estilo,porque eu qualquer estilos amo ler,quer um livro que eu poste basta pedir na embaixo no meu ask,ok meu nome João Paulo ,comente para eu interagir com vocês.

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